— Por quê?
— Porque não.
— Por que não?
Ela suspirou e virou-lhe as
costas.
— É uma história muito longa.
Ele deu um passo adiante.
— Eu tenho todo o tempo que
precisar. Nada no mundo é mais importante do que esta conversa.
— Nem mesmo eu?
Ela virou-se de novo e os dois
passaram um bom tempo se encarando, olho no olho. O som das ondas se chocando
com a areia preenchia o silêncio naquele fim de tarde. Certamente aquele era o
lugar perfeito para passar um tempo com a namorada, o sol poente sendo a única
testemunha do amor do casal. Ele sabia disso, e isso piorava tudo.
Os olhos dela marejaram, mas
conteve as lágrimas.
— Você é o motivo de essa
conversa ser tão importante. — Ele estava sendo sincero, como sempre fora.
Ela virou-lhe as costas mais uma
vez e deu três passos trêmulos.
— Entendeu? Nunca daria certo.
— Mas por quê? O que há de
errado? O que nos impede de ser feliz juntos?
— Tudo! — Ela tornou a
encará-lo. — Você, eu, nossas escolhas…
Ele correu em sua direção e a
tomou nos braços.
— Eu escolho você! Tudo o que
eu sempre quis na vida encontrei em você, como pode haver algo de errado nisso?
Novamente, o contato visual
profundo demonstrou a emoção que sentiam naquele momento. Ele tinha certeza que
ela mudaria de opinião; ela, que ele entenderia.
— Como pode não perceber? — Ela
se livrou de seu abraço e, em seu lugar, abraçou a si mesma, como se sentisse
falta do aperto.
— Perceber o quê? Você não me
ama?
Dessa vez ela não pôde segurar
as lágrimas. Ele já não precisava de resposta, mas ela a deu de qualquer jeito,
sussurrando, quase inaudível:
— Amo. Amo como nunca amei em
minha vida. Amo como as ondas amam a praia. Eu queria poder te beijar como as
ondas beijam a praia, mas…
— Mas, nada! — Ele a
interrompeu, também sussurrando, e a envolveu, como só ele sabe. Com a palma da
mão, acariciou o rosto dela devagar, e ela acompanhou o movimento, os olhos
fechados, um meio sorriso. Ele aproximou sua boca da dela. Estavam tão próximos
que podiam sentir o hálito um do outro. Ninguém, a não ser o sol poente, era
testemunha desse momento.
Antes que seus lábios se
tocassem, ela o empurrou levemente e recuou. Chorava como se sentisse dores
terríveis e olhava o rosto descrente dele.
— Por quê? — Ele perguntou. —
Se você me ama, por que, então, me recusa? O que há de errado comigo? O QUE HÁ
DE ERRADO COMIGO?
Lágrimas rolavam dos dois pares
de olhos. Lágrimas de amor e de dor; de alegria e de tristeza; de certeza e de
dúvida.
Como se estivesse ironizando de
seu grito, ela sussurrou:
— Não há nada de errado com
você, esse é o problema. Você é perfeito demais, eu não te mereço. Nunca me
sentiria feliz sabendo que tenho mais do que devo. Prefiro sofrer pela
distância a sofrer por dentro.
Ela então sacou um revólver e
disparou contra ele.
Apesar de tudo o que ela disse,
ele ainda não podia compreender a atitude dela. Aquilo tudo não fazia o menor
sentido.
O projétil saía do cano da
arma.
Nunca ouvira falar num caso
semelhante; nunca pensara que perfeição pudesse arruinar um amor tão puro e
verdadeiro quanto o deles.
Dois metros o separavam da
bala.
Mas ele não era perfeito, pelo
contrário. Errara tanto ou até mais do que os outros, e se arrependia
profundamente de sua falta de sabedoria.
Um metro.
Por isso ele buscava a
perfeição, não para ser perfeito, pois sabia ser impossível, mas para ser
melhor, para si e para os outros.
Meio metro.
Principalmente, ser melhor para
ela, que por muito tempo foi tudo para ele. Sonhava com o futuro ao lado dela,
e tinha certeza de que, se ele não pudesse ser perfeito, pelo menos o futuro o
seria, e com isso a vida deles seria plena.
. .
.
Desejou que o projétil que
imaginara fosse real. Pelo menos com a morte a dor passaria, e não precisaria
se lembrar de quando ela foi embora, chorando, e o deixou lá, parado, sozinho,
agonizando um amor que seria tudo, mas nunca fora. O som das ondas se chocando
com a areia preenchia o silêncio naquele fim de tarde. Aquele ainda era o lugar
perfeito para passar um tempo com a namorada, o sol poente sendo a única
testemunha do amor do casal. Ele sabia disso, e isso piorava tudo.
— Wagner Cerqueira
Salvador/BA
Que perfeito vei. Me Vi nessa história! Show!
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